Por um triz metia o meu filho noutra escola.
Foi por um triz que o meu filho teve a sorte de ter o professor António como professor.
As pessoas diziam que o professor passava mais tempo na horta que na escola... Que era bruto. Que perdia muito tempo com coisas que pouco importavam e que devia passar mais tempo na sala de aulas.
Reclamavam porque ele era raro enviar tpc.
E eu, sei lá, nunca tinha deixado nenhum filho na escola. E pensava sempre, o primeiro impacto na escola é uma coisa séria. Os miúdos tem 6 anos, bolas, tem de ficar ali o dia inteiro... Tem de gostar da escola.
A escola do Rafael é uma escola de aldeia. Uma linda escola antiga que podia ter melhores condições.
Mas é num lugar onde eu cresci. Tem o pinhal e a praia mesmo ali... E isso foi um motivo forte.
Deixei o Rafael naquela escola.
O Rafael passava muito tempo na horta. Iam passear no carro do professor e o professor pedia-lhe que levasse coisas para a escola, e pedia ajuda dos pais para tratarem da horta e.... Era raro enviar TPC.
dizia, mas eles já trabalham muito na escola. Em casa, é ara brincar.
E ia, para a horta, e mediam as plantas, e contavam feijões... E eu sei lá o tempo que passavam dentro da sala, mas
O Rafael entrou na escola em Outubro e em Dezembro já lia tudo e fazia contas de cabeça...
Depois o professor ficou doente, e veio uma professora nova... E o Rafael dizia... Ah, eu gosto dela, mas ela não é o Professor António.
E o professor António, doente, continuava a ir a escola, explicava aos miúdos que estava doente, com um sorriso, dizia aos miúdos que lhe podiam arrancar cabelos, que não lhe doía.... E os miúdos tiravam-lhe cabelos e brincavam com ele...
E quando o viam na rua... O professor era assaltado por pares de braços que o agarravam emocionados.
O professor António morreu. Vai fazer tanta falta aquela escola...
Tornou-a mágica. O amor que ele tinha à escola tornou a escola mágica.
Amar o que fazemos dá-nos poderes especiais.
Foi por um triz, mas ainda bem que não o fiz!