Ambos os meus filhos nasceram de Partos "normais"... E note-se, que há sempre uma confusão imensa entre normal e natural...
O meu primeiro filho nasceu de fórceps, e inanimado...
A segunda, sim, de um parto normal, natural qb...
Pensava eu anos depois de ter nascido o Rafael, que as coisas tinham acontecido porque sim, que tinha resolvido tudo na cabeça... Que a medicina isto e aquilo, e na realidade nunca tinha parado para pensar no parto em si... Até ao dia em que aprendi como nascem os bebés... Que eles não nascem com todo aquele sangue, como se vê na tv... Que deveria ser tudo mais tranquilo... E quando caí em mim, no quanto na realidade tinha sido fraca... Ao ponto de no primeiro instante, ainda antes sequer da dor, pedi uma epidural... E pronto... Fui, estou certa, a provocadora de todo o desenrolar de um parto instrumentalizado, que me deixou dois meses de dor. Mas pior do que isso foi que quando eu acordei desta ideia, chorei e apercebi-me que me doía. Essa incapacidade. Essa culpa.
Eu nunca fui Zen. A única parecença que eu tenho com zen é a letra Z, de Zelia.
O medo é um dos nossos maiores inimigos foi a conclusão que eu tirei. Obvio.
Mas ainda assim, nunca em ponto nenhum da minha existência como mãe eu deixei de achar que o parto dele foi bonito. Apesar dos pesares.
No segundo parto e conhecia tão bem o meu corpo e o funcionamento dele... Que a dor, essa em que se geme e grita... Não passou de umas moinhas... Ja contei aqui como foi... Tranquilo, sábio... Sereno... Sem medo.
A Alice nasceu desperta, veio para o meu peito, mamou... Foi uma passagem simples, de puxa puxa... E olha aqui está... Como deveriam ser todos os partos, todas as passagens.
Esta semana uma mulher que acompanhei deu à luz um bebé de cesariana. Ela queria um parto natural, mas o bebé dela não nasceu como ela sonhou. Apesar do esforço... Apesar de esperar... E eu não tenho conseguido falar com ela...
E muitas mulheres tem bebés de cesariana porque escolhem... E arranjam-se desculpas, que não estao para passar pela dor, ou que o medico vai de ferias.... Ou qualquer outra coisa... Não julgo, cada um de nós faz o que tem de fazer...
Mas, esta, esta não queria este final... E por isso eu queria dizer-lhe que...
Ainda que eu não goste da ideia de cesariana... Ou ela.
Ainda que não seja tão romântico... Tão "limpo"... Tão zen. Tão tranquilo. Tão exactamente como idealizaste...
Até uma cesariana é bonita, se ela salvou o teu bebé e permitiu que esteja agora nos teus braços...
Não foi ela que fez de ti mãe.
Isso, tu já eras!
O sonho e a realidade são duas coisas distintas. Mas o sonho era o bebé...
Ainda não a vi, mas aposto que é tudo o que sonhaste e mais...
gosto tanto de ler o que escreves zélia, uma linguagem simples que vem do coração... o parto do meu josé também foi cesariana, por "imposição" da médica que ia de férias... ainda não ultrapassei a coisa, porque não tive coragem de enfrentar a vontade dela e os medos que me fez ter... e já passaram quase 6 anos.. o receio de que algo corresse mal se esperasse fez-me deixar que o parto fosse provocado às 39 semanas, sem que nada estivesse a correr mal. fiquei triste porque também imaginava o parto "normal"... e depois foram 48 horas a tentar que o bebé nascesse sem qualquer sinal de que já estivesse na hora... e a cesariana como desfecho... e a minha médica que passadas as 48 horas já tinha ido de férias! o que escreveste fez-me pensar nos medos que tive... ainda assim foi lindo, é sempre lindo... e recordo com muito amor o momento em que o vi e me disseram: é um menino! :)
ResponderEliminarbeijinhos para ti e para essa mamã que agora entra neste mundo mágico!
Mais uma vez escreves um teto que de certeza vai ajudar muitas mulheres. Quando estava grávida descobri o teu blog, o antigo, e eu li-o todo, de fio a pavio, não imaginas como os teus textos sobre gravidez e amamentação me ajudaram durante a gravidez, durante o parto (que também não foi natural, mas foi normal), durante a amamentação e durante esta "coisa" que é ser mãe.
ResponderEliminarObrigada pelas tuas palavras lindas e muito sábias.
E apesar de não seres zen, estas palavras ajudam muitas mulheres a encontrarem o seu lado zen. :)
Eu tive um parto de cesariana às 37 semanas, porque o meu filho tinha uma circular ao pescoço. Não a pedi ou desejei, mas não a neguei e nem me culpo por nada disso. Porque quando fui para o hospital me mentalizei que teria o parto que teria que ter, independentemente da minha vontade de ser mais natural, normal ou outra coisa qualquer... com mais dor ou menos dor. Decidi aceitar o que viesse.
ResponderEliminarRecuperei fantasticamente da cesariana (mais até do que esperaria e que quase meio mundo me perspectivara) e aceitei a minha cicatriz com a maior das naturalidades, porque ela representa um momento importante da minha vida. Aquela cicatriz é a marca do nascimento do meu filho, a quem amo de paixão, por isso aceito-a e acarinho-a como parte integrante do meu ser!
Adorei as tuas palavras. <3
ResponderEliminarAgora devo dizer que fiquei chocada com o facto de haver «médicas» que impõem cesarianas só porque vão de férias...
Eu sou daquelas que teriam gostado de ter o seu bebé em casa, na banheira, e acabei por a ter no hospital, com cesariana de urgência, às 35 semanas, depois de 10 dias de internamento por complicações que nunca teria antecipado. Claro que no processo todo fiquei fragilizada e com algum medo, e que a recuperação foi muito diferente do que teria gostado, mas sei muito bem que é só graças a isso que hoje eu sou mãe e tenho uma filha que é a minha maior felicidade. Às vezes, as cesarianas, por desagradáveis e complicadas que sejam, salvam vidas. E então, que sejam bem-vindas.
ResponderEliminarBravo Zélia!
ResponderEliminarTambém eu sonhei com um parto normal, natural. Esperei 41 semanas e 3 dias. Sem dores, contracções, dilatações de espécie alguma. Mediram-me os dedos de dilatação tantas vezes que acabaram por me rebentar as águas. Ainda esperei mais umas horas, monitorizada, porque ao contrário do que se pensa, num hospital público uma cesariana só se faz em último recurso. Porque não há dinheiro, não há médicos, não há camas... O meu filho nasceu, ouvi-o gritar antes de o ver, com tanta energia como se dissesse que não me queria largar. Foi esse o comentário geral, das enfermeiras e médicos, e serviu de algum modo para atenuar o sentimento de falhanço que me atormentou acho que até ao parto do segundo filho. Que também foi de cesariana, desta vez pensada e discutida com um médico extraordinário, que não é adepto do procedimento, mas que me explicou que eu mais uma vez não ia entrar em trabalho de parto, e que não era menos mãe ou mulher por isso. E o segundo parto foi uma experiência tranquila, livre de culpas e angústias. Uma experiência bonita, como naturalmente um parto deve ser.
ResponderEliminarobrigada pela oportunidade de recordar e partilhar estas memórias.