sábado, 28 de janeiro de 2017

One day, when i am gone.

28.1.17


Na minha casa, é como na casa do ferreiro. Não tenho as cortinas a combinar com as almofadas, a manta do sofá não fui eu quem fez, e está rasgada em dois sítios. Se andar a pescar uma ou outra peça feita por mim, não darão muitas. Sei que algumas ficam decepcionadas com o chepeto de pau. !(Não sei escrever chepeto?); não sei explicar porque é assim, tantas peças que já fiz ao longo da vida, mesmo as que foram feitas antes de eu viver de fazer coisinhas com as mãos.  Mas é. 
Agora, que faço peças de outras peças, coisas que pertenciam a pessoas, caregadas de memórias, que as transformo, que lhes dou uma outra carga emocional, dou por mim a pensar. se acreditasse na vida após a morte, será que essas criaturas gostariam do que eu fiz? As calças de um avô numa almofada. 
Tenho algumas coisas que a minha avó materna fez, rendas de bilros. Guardo-as com amor especial. São o tempo dela, do tempo dela, o tempo que ela já não tem. 
No outro dia brincava com o facto de algumas pessoas terem muitas peças minhas, que na minha ausência, podiam fazer uma exposição, um mini museu, já fiz mesmo muitas peças. E claro, a maior parte delas está espalhada, e não tem o valor das peças da avó, porque foram feitas para vender.
Mas, das coisas que faço e dou, das que reservo o direito de deixar um retalho de tempo, acho, não, tenho a certeza, que um dia, quando eu for desta para melhor, seja lá onde isso for, seja lá que idade eu tiver, que a única coisa que quero é que quem ficar possa olhar e sentir o mesmo que sinto quando pego em algo que alguem que já partiu fez. Não sei o que lhe chame.
ajudem-me, talvez lhe chame "memória".

domingo, 8 de janeiro de 2017

Tal como pele.

8.1.17
.

Há muitos anos atrás, estudei sobre pele. Oxitocina e pele. Que a pele tem memória. Que essa memória nasce no ventre, e morre apenas quando morremos. É uma ideia da qual gosto.
Mas este post não é sobre pele. É sobre tecidos. Sobre Batik, que é certamente o meu tipo de tecido preferido. Não pela qualidade, mas pelas memórias que associo a ele. 
O primeiro batik que ganhei foi da mesma época em que eu estudava sobre pele. Tinha vindo de África, estava carregado de memórias felizes de bebés que eram carregados ao colo e foi a minha querida Sofia Valente quem me deu. Um dia comprei o cor de rosa, da fotografia. Apenas um tecido com rebordo, era "africano" mas tinha vindo da Holanda, de onde vem muitos, muitos tecidos africanos (ah, pois é, e lá que são feitos); esse pano passou a estar impregnado de memorias, de tardes deitada ao sol numa praia qualquer, ou de usá-lo no parque, para me sentar, a tricotar, aqui e ali. No porta bagagens do carro, dentro do meu saco, num pique-nique. Ele carrega as minhas memórias, muitas. 
A Virginia deu-me tambem alguns batiks, um dos quais está na foto superior direita, que morou no meu sotão, na minha sala, e um dia fiz-lhe um rebordo e ofereci ao Romeu.
e os outros dois foram oferecidos neste natal, pela Rita Inglez, uma quase desconhecida, que os teve 20 anos e depois achou que eu era merecedora de fazer algo com eles. Um entreguei, e o outro, do canto inferior direito, há de ser ou uma saia ou algo que me lembre mesmo antes de fazer a saia, ainda estou indecisa.
A magia do batik para mim, é que não precisa de nada para durar, para ficar bonito, para ser especial. Só precisa de tempo, para carregar memorias e ser algo especial, que olhamos e nos faz lembrar momentos e gente.
Tal como a nossa pele.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Não sei explicar.

4.1.17

Não sei explicar porque gosto tanto de fazer meias. Também não sei explicar o bom que sabe, quando se entregam um par de meias a quem aprecia, nem o quanto me aquece essa ideia de saber que alguém estima o que fazes. 
Sei o que é calçar umas meias que alguém te fez, de proposito para ti, porque já tive essa sorte. É um aconchego bom, quase um colo mas os colos são junto ao coração e este é na outra extemidade. 
E claro que também sei, que um par de meias se compra por meia duzia de tostões. Mas como li há bocado, "caraças", não tem nada a ver. 

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Faz o que digo, não faças o que faço...

3.1.17

Existem mil e um conselhos que se dão, que eu dou, para as pessoas que se iniciam na arte de tricot. especialmente nas meias, há um muito importante, porque o novelo para meia normalmente tem 100 gramas, e cada meia usa aproximadamente 50, era mesmo bom dividir o novelo para que depois não aconteça o que ultimamente me acontece, que a lã não chega para a segunda. 
Fazer meias continua a ser para mim algo muito especial. Já as faço por instinto e por muito que se saiba, continua sempre a ser por tentativa, erro. Ou seja, mesmo que use umas agulhas 2,5mm cada lã reage de modo diferente, não é uma ciencia exacta. Para a mesma pessoa, e estas meias são de homem, já fiz umas meias com 64 malhas de inicio, 16 para cada agulha, e estas tem apenas 56 malhas, só para terem uma ideia de como todas aquelas perguntas que me fazem e ás quais tento responder, não valem para qualquer lã, nem para qualquer mão, ou tensão. 
Assim, posso dizer que estas meias estão temporariamente encalhadas.
Por isso, não faças o que eu faço, faz antes o que digo. Que eu saber, sei, fazer o que devo é que sei lá, talvez devesse ser uma determinação de novo ano.