Há cerca de três anos que ando de volta dos "trapos".
Acho que muitas pessoas pensam que fiz isto a vida toda, ou seja, que nunca tive um emprego a sério, desses que se vive atrás de um ecran e com um telefone na mão. Um emprego onde eu trabalhava 8 horas por dia a fingir que era uma mulher má e séria, a pedir dinheiro aos clientes e a adiar pagar aos fornecedores.
Não falava disso aqui, assim como não falo de pormenores da minha vida. Eventualmente posso dizer uma graça dum filho, colocar uma fotografia, mas sim, acho que algumas coisas não são para expor. Quando leio blogues de outras pessoas das quais não conheço a realidade, também me parecem, tal como alguém já disse de mim, alguém inacessível. Depois um dia conhecemos essa pessoa pessoalmente, tomamos consciência de como a vida dela também não é perfeita, de como também é frágil, ou como uma dessas uma vez me confessou: é claro que não vou dizer no meu blog que choro quase todos os dias.
Quase todas as semanas recebo mensagens de pessoas que me admiram. Admiram a minha coragem. Admiram que faço o que gosto. Que luto. Admiram as ideias que tenho. Perguntam, como é possível que tenhas sempre tantas ideias. Esta semana, duas disseram que eu era a tentação delas.
É claro que gosto. Gosto que me admirem. Se eu for uma infeliz ninguém vai querer comprar o que faço. Mesmo que nalguns dias eu seja de facto, uma fraude.
Qual coragem? Eu fui despedida. Tenho dois filhos. Na minha idade, não vai ser fácil eu ter um emprego. E sim, tenho muitas ideias. Não sei de onde elas vem. As vezes sinto-me uma hiper-activa. As ideias não me vem duma tranquilidade ou duma genialidade. Não estou a saltitar pelo Ateliér de sorriso no rosto em câmara lenta; é mais uma espécie de frenesim, mesmo sentada, duma cabeça a andar à roda, de noite e de dia a pensar, MAS O QUÊ???? o que raio vou fazer que as mulheres queriam comprar hoje para meter comer na mesa Amanhã???
Porque eu não vou contar aqui o que a crise fez à minha vida. Não é preciso. A crise fez isso à vida das pessoas no geral. Nem vou contar, mas posso dar um lamiré, dos altos e baixos que tem o meu humor bailarino.
E sim, como a maior parte dos artistas, tenho dias, ou horas ou momentos em que sou sorridente e bem disposta, para quando fecho a porta que me separa das pessoas lá fora, ter de abrir os braços para impedir as paredes de se fecharem sobre as minhas ideias.
As minhas ideias, gosto de pensar que vem das coisas que vivo, ou vivi, do Olá do vizinho do bairro, do gesto bonito que alguém teve, das flores da praça, e, essencialmente de ter passado anos do outro lado, a comprar coisas na internet porque tinha dinheiro.
Eu sei o que eu gostava de comprar, e faço.
O meu trabalho ainda ê atender clientes. E gosto. Mas alguns clientes ainda não me levam a sério. Acham que estou a brincar. Acham que estou como quero. Algums acham até que não preciso trabalhar. Mas ser a tua tentação dá trabalho. Adivinhar o que te vai fazer querer, em que cor.
Faço para ser a tua tentação. Porque se não for a tua tentação, na minha casa não há PÃO!
10 estrelas Zélia ;)
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