domingo, 25 de outubro de 2015

Eu não posso querer nada!

25.10.15
Há umas semanas atrás, a minha filha quis experimentar aulas de Ballet. As primeiras aulas foram maravilhosas para ela. Tudo para ela era dançar vestida de cor de rosa. Comprei as coisas, e lá foi ela, duas três vezes. Depois chorou, disse que era muito cansativo ir ao ballet. "Mãe, eu só queria experimentar..."
Nunca pensei que fosse do gênero de mãe que se desiludisse com uma filha desistir "da sua curta carreira de bailarina aos 4 anos de idade"! Mas, na realidade, acho que de repente tive aquela sensação de decepção, que certamente os pais têm quando os filhos não fazem as coisas com que os pais sonham, logo eu, que nunca tinha pensado que queria que ela sequer fosse bailarina.
E não tem importância, claro. Amanhã ou depois, ela muda (ou não), de idéias. Vai querer voltar. Vai querer talvez ser advogada ou qualquer uma outra coisa que eu ache nada tem a ver comigo. Ainda assim, eu senti essa pequena pontinha de tristeza. E não posso, porque assim como quando a minha mãe dizia a frase: "não podes ser assim" e eu respondia: "claro que posso, eu posso ser como eu quiser!"; a minha filha será, terá de ser, ou não terei feito um bom trabalho, 
Exactamente e apenas, o que e como ela quiser.
E eu? Ah, eu nada. 
Se eu queria ser bailarina, devia ter pedido umas sapatilhas cor de rosa, ao invés de uns ice skates!

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Mãe galinha!

16.10.15

Antes dos 10 anos, eu vivia num bairro italiano, junto a um liceu. Lá do outro lado do oceano. Todos os dias havia um carro da polícia, faziam rusgas, levavam miúdos. Ainda assim, numa cidade grande como era Toronto, eu ia a pé para a escola, que era a uns 4 quarteirões dali. Cresci numa escola multi-racial, havia claro racismo, haviam brigas, conflitos. Ora uma vez ganhei um concurso de desenho aos 8 anos, e durante 3 semanas tive de ir por outro caminho, porque uma miúda Índia (Índia mesmo, com duas tranças lindas e mais alta que a professora,mãe fez a vida negra); ainda assim cresci a respeitar. Acho eu que alguém fez um bom trabalho. O melhor que puderam.
E hoje o meu filho tem 10 anos. Anda numa escola nem metade daquela que eu frequentava. E de repente, sou uma mãe galinha? As vezes penso, calma, é normal, ele está a adaptar-se à escola, e é tímido, e acredita numa paz que é suposta, onde não tiram o que é teu, onde não é suposto levantar a mão para agredir ninguém. Depois pensas se foi assim tão boa ideia a que tu tiveste, de o por primeiro naquela escola pequena, porque era junto a praia... Agora lanças o miúdo à selva. Não o ensinaste a agredir. 
Hoje o meu filho chegou a casa e disse: Mãe, hoje o "fulano de tal" foi cercado na escola. Por miúdos de várias turmas. Deram-lhe tanta pancada que khe partiram um braço. Eu sei mãe, eu sei que ele fez por merecer, mas acho que não era preciso tanto".
Assim, olhando para a terça feira passada quando eu fiquei chocada do professor diretor de turma ser tão agressivo conosco país, porque olhou nos nossos rostos e disse, sem papas na língua, em linguagem direta, CRUA: não foi aqui que eles aprenderam a fazer isto, a agredir gratuitamente os outros miúdos, numa violência constante. Foi NA VOSSA CASA, foi, nos LUGARES para onde VOCÊS os levam; sou obrigada a pensar. 
Ligamos a televisão. Discutimos. Nalguns dias GRITO, e faço o meu melhor. Ele tem acesso à internet. Eu acho que ele não vê o que não deve, mas vê? Não batemos em animais. Ajudamos os animais? Partilhamos links sobre refugiados, partilhamos links de associações anti-tourada, anti violência doméstica, ouvimos os vizinhos gritar, o vizinho oferece-nos pistolas... Brincamos com isso. Digo, olha só que o vizinho perguntou se eu queria aquela pistola.
É sim, é mesmo em casa que eles aprendem. E nos sítios onde os levamos. E é assustador, que reclamemos de tudo. De todos os monstros que nós criamos, ou encobrimos, e depois lançamos os nossos filhos no filme que viram na semana passada na TV, porque queríamos fixar um bocado sossegados a respirar.