sábado, 28 de janeiro de 2017

One day, when i am gone.

28.1.17


Na minha casa, é como na casa do ferreiro. Não tenho as cortinas a combinar com as almofadas, a manta do sofá não fui eu quem fez, e está rasgada em dois sítios. Se andar a pescar uma ou outra peça feita por mim, não darão muitas. Sei que algumas ficam decepcionadas com o chepeto de pau. !(Não sei escrever chepeto?); não sei explicar porque é assim, tantas peças que já fiz ao longo da vida, mesmo as que foram feitas antes de eu viver de fazer coisinhas com as mãos.  Mas é. 
Agora, que faço peças de outras peças, coisas que pertenciam a pessoas, caregadas de memórias, que as transformo, que lhes dou uma outra carga emocional, dou por mim a pensar. se acreditasse na vida após a morte, será que essas criaturas gostariam do que eu fiz? As calças de um avô numa almofada. 
Tenho algumas coisas que a minha avó materna fez, rendas de bilros. Guardo-as com amor especial. São o tempo dela, do tempo dela, o tempo que ela já não tem. 
No outro dia brincava com o facto de algumas pessoas terem muitas peças minhas, que na minha ausência, podiam fazer uma exposição, um mini museu, já fiz mesmo muitas peças. E claro, a maior parte delas está espalhada, e não tem o valor das peças da avó, porque foram feitas para vender.
Mas, das coisas que faço e dou, das que reservo o direito de deixar um retalho de tempo, acho, não, tenho a certeza, que um dia, quando eu for desta para melhor, seja lá onde isso for, seja lá que idade eu tiver, que a única coisa que quero é que quem ficar possa olhar e sentir o mesmo que sinto quando pego em algo que alguem que já partiu fez. Não sei o que lhe chame.
ajudem-me, talvez lhe chame "memória".

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